tag:blogger.com,1999:blog-7640419438134632962024-03-14T06:57:43.214-07:00O Lugar & os Monos (b)A bicharadaRodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues)http://www.blogger.com/profile/13190163107277790391noreply@blogger.comBlogger7125tag:blogger.com,1999:blog-764041943813463296.post-37486405708804643192008-12-05T17:48:00.000-08:002008-12-05T18:33:58.917-08:00O que os bichos não dizem mas fazem: 2. a Ratita.Eram vários de riscados e matizes diversos. Ele tinha um ar enfezado. Tenho uma vaga ideia (em geral, só tenho vagas ideias) que "enfezado" significa reles, pequenitotes. Mas olhando de repente para a palavra (porque as palavras vêem-se melhor quando se olha que quando se escuta) entrevejo a etimologia a rachar a palavra ao meio e concordo: ele era realmente um "merdas", um gato sem expressão nem notoriedade.<br /><br />Pus-lhe o nome de Ratito. Cresceu humilde e submisso à sombra do irmão Laranjinha. Só lhes distingui o sexo quando apareceram <span style="font-weight: bold;">ambas </span>pranhas com os mamilos parecendo ventosas alinhadas a apontar o chão.<br /><br />Ocupou os vãos do contentor para abrigar a ninhada e a Laranjinha teve que ir parir longe. Teve os filhos com competência e apresentou-mos cheia de orgulho. Nunca os largou. De dia, escondia-os na rotunda dos cedros onde podiam apanhar sol sem serem surpreendidos. Trazia-os à hora das refeições e punha-os atrás da sebe de ligustos sabendo que lhes poria a ração a dois palmos das nariguetas. Provava primeiro e afastava-se, voltando apenas para rapar as sobras. Aleitou até tarde.<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5UwUgB8RJ4n9DOx4c65vxnphSX8B_nyQ2Zsn8n8oaeLp_MdNolktFA0sqf3rz7Tp1afkBAoMoZ8_bpU_KVQ4DLMAYiiKnEDqX9Vf-qW4kVj_i2WhHoYoo-RvC5zLJZ4czuQ9gHmdVD8c/s1600-h/20080828_3484.JPG"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5UwUgB8RJ4n9DOx4c65vxnphSX8B_nyQ2Zsn8n8oaeLp_MdNolktFA0sqf3rz7Tp1afkBAoMoZ8_bpU_KVQ4DLMAYiiKnEDqX9Vf-qW4kVj_i2WhHoYoo-RvC5zLJZ4czuQ9gHmdVD8c/s200/20080828_3484.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5276499140229129522" border="0" /></a>Brincava muito com eles. Ainda brinca com o Fofinho e a Farrusca. Estes são grandes, anafados, confiantes e espertos a contrastar com os primos que têm metade do seu tamanho, são tímidos e pouco devem à esperteza.<br /><br />Comparando as duas gatas vem-me à memória as experiências de <span style="font-weight: bold;">Harlow </span>(1958) em macacos rhesus com a mãe de pelo e a mãe de arame. É que, para desenvolver adultos saudáveis, o importante não é alimentar mas dar carinho e conforto.<br /><br /><br /><br /><a href="http://psychclassics.yorku.ca/Harlow/love.htm"><span style="font-style: italic;">The Nature of Love</span></a>, Harry F. Harlow, 1958, <span style="" lang="EN-CA">First published in <i>American Psychologist</i></span><span style="" lang="EN-CA">, <i>13</i>, 673-685.</span>Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues)http://www.blogger.com/profile/13190163107277790391noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-764041943813463296.post-91569524453228528512008-11-28T04:06:00.000-08:002008-11-28T06:22:08.904-08:00O que os bichos não dizem mas fazem: 1. a Laranjinha.Conhecem os "meus" <span style="font-size:85%;">(não é <span style="font-style: italic;">possessivo</span>, é apenas <span style="font-style: italic;">referencial</span>)</span> bichanos actuais. Temos uma família constituída pelos meus seguidores e a tia Laranjinha. Há que acrescentar-lhe o Black que parece ser de muitas famílias ao mesmo tempo e não tem paternidade confirmada em relação a nenhum dos menores, salvo a Farrusca em relação a quem pende uma paternidade putativa.<br /><br />Pondo a coisa a claro, os meus seguidores são a mãe Ratita e os seus dois filhos, o Fofinho e a já mencionada Farrusca, também conhecida por a Bailarina.<br /><br />Tem, cada um, características que lhe são exclusivas o que faz deles Pessoas. Assim mesmo: com um P grande. E as marcas a que me refiro não são físicas, são morais.<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRUEjB3lruWwSoUCAPLvnDq2p5rWCfErYKy92EH6bxx-bvR79DidL8JJPxqiiAr50sW3GUQD9ZM4mss94zwWBxcQPcCXsPBA2OP63qLIXJcQR72q1jbco8ECKfsSIJn-zrOWuMA-SW9cI/s1600-h/DSCN2885.JPG"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRUEjB3lruWwSoUCAPLvnDq2p5rWCfErYKy92EH6bxx-bvR79DidL8JJPxqiiAr50sW3GUQD9ZM4mss94zwWBxcQPcCXsPBA2OP63qLIXJcQR72q1jbco8ECKfsSIJn-zrOWuMA-SW9cI/s200/DSCN2885.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5273711328449065090" border="0" /></a>Comecemos pela <span style="font-weight: bold;">Laranjinha</span>. Deve o nome, que lhe pôs o Daniel, a uma minúscula mancha alaranjada no alto da cabeça. De resto é de cinzento tigrado, como a irmã Ratita e outra irmã sem nome nem marcas particulares, mais estreita e alongada que a Ratita, que aparece muito raramente. As três são filhas da mesma ninhada da Maria, há muito desaparecida, tal como o Bolinha e o Mião, os irmãos machos que foram fazer pela vida para outras paragens.<br /><br />A Laranjinha é, de seu particular, uma excelente caçadora, gata vadia, ladra atrevida e rufia. De pequena vinha comer com os seus irmãos da comida de lata que lhes punha nos pratos. E ficavam por ali no repasto sob o olhar vigilante da Maria - sempre com um olho nos perigos distantes e o outro posto em mim - tão próximos que me permitiam uma, quando muito duas festinhas nos pelos sedosos. Não a Laranjinha, que me mostrava os dentes e arredava. Numa das minhas infelizes abordagens àquela pequena fêmea, tão arisca e tão cheia de personalidade, deitou as gadanhas à mão que a tentava acariciar e puxou como quem esventra um coelho. Tendo a mão ensanguentada e ferrada, dei-lhe um piparote com a outra disponível e projectei a gata à distância de umas duas ou três passadas largas. Daí para cá olhamo-nos com desconfiança e distanciamento.<br /><br />As gatas engravidam ao mesmo tempo e permanecem próximas com as suas ninhadas para se auxiliarem mutuamente. Não misturam as crias no mesmo ninho mas ficam por perto umas das outras. Quando há movimentações, e todos os dias é preciso ir à caça para satisfazer doze pequenas bocas, revezam-se nas funções de caça e de guarda. Juntam as ninhadas no sítio com maior protecção e, enquanto uma as protege, muitas vezes auxiliada por um pai que sabe quando há-de aparecer, a outra sai para uma incursão venatória. As refeições são diversificadas: na maior parte, a dieta é coelho. O desgraçado é aberto e despido da sua manta de pelo, são-lhe abertos alguns orifícios nos locais apropriados, e vai sendo esvaziado, primeiro do sangue, depois da gordura, das vísceras e, finalmente, da massa muscular já cozinhada pela exposição ao ar livre durante dois a três dias. As variantes são os melros, outras aves, cobras e lagartos. Nas fase de transição entre a aleitação e uma maior mobilidade dos gatinhos, o sítio fica um chavascal pejado de ossos, penas, pelos, escamas. Ratos e ratazanas já há muito que os deixei de ver. O que vejo, sim, é as gatas sempre de atalaia ao pé da fossa.<br /><br />À medida que crescem, as crias vão diminuindo em número, geralmente de seis para duas, para cada gata. Não ficam vestígios no local, é para mim um mistério ainda por desvendar. As gatas não parecem muito incomodadas com o desaparecimento. Mas, no final de fase, tornam-se mães galinhas e andam sempre com o coração aos pulos em cima dos dois meninos jesuses restantes.<br /><br />Das duas, a Laranjinha é a caçadora mais eficaz, assim como a Ratita se especializou na <span style="font-style: italic;">maternage. </span>Enquanto a Laranjinha faz a sua sortida, a Ratita junta os quatro ou cinco sobreviventes no espaço entre o contentor e a sebe e fica por ali a espreitar, nunca se deixando adormecer. Se estou por ali, conversamos os dois, mas fico sempre do lado do anexo e ela do lado do contentor. De vez em quando aparece a Laranjinha com um coelho com o dobro do seu tamanho na boca. Sempre em corrida, surge vinda dos lados da horta, passa em corrida entre a irmã e a sebe e manda com o coelho contra o contentor, desaparecendo velozmente na direcção do terreno do meu vizinho Paulo. Não é dizer que a Ratita não seja boa caçadora. Estou só a afirmar que a Laranjinha é uma caçadora olímpica.<br /><br />Quando dou comida de lata aos petizes, elas autorizam-me que eu passe as tigelas pela sebe e dispõe-se uma de cada lado a proteger cada entrada do túnel formado com o contentor. Têm uma organização tipicamente militar que, muito inteligentemente, dá prioridade à segurança e à diminuição do risco. E enquanto aquele pessoal não cresce a confiança dada aos amigos bípedes é parcial e condicional.<br /><br />Quando estão todos à mesa do banquete que lhes proporciono uma vez por dia (para não se desabituarem de caçar), o pessoal, maior e menor, anda por ali à vontade e eu misturado no meio deles, às vezes com vontade de dar uma trinca nos pedaços de coelho com bom aspecto misturados com ervilhas e cenouras estufadas cortadas aos pedacinhos. A Laranjinha não se mistura. Fica por perto com um olho em mim, outro nas tigelas e nos comensais. Inesperadamente, lança-se em jacto sobre uma das tigelas que tem uma folga para mais uma cabeça, arranca três ou quatro pedaços de carne e vai comer para longe. Só sabe caçar e roubar.<br /><br />[<span style="font-style: italic;">A fotografia é uma das raras em que aparece a Laranjinha. Quando lhe aponto a máquina e disparo, só fica registado o rabo. Nesta, tirada em 30 de Outubro do ano passado, ainda era jovem. É a que está a comer: vê-se bem a manchinha laranja entre as orelhas]</span>Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues)http://www.blogger.com/profile/13190163107277790391noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-764041943813463296.post-77639118409459866972008-11-20T15:50:00.000-08:002008-11-20T16:09:52.103-08:00O que os bichos não dizemE dir-me-ão vocês: " O que tem a ver a bota com a perdigota?". É que o que eles não dizem não é para se repetir. Limito-me, portanto, a deixar aqui algumas fotografias tiradas recentemente.<br /><br /><div style="text-align: left;">Em primeiro lugar, do <span style="font-weight: bold;">Black</span>, o gato afro-europeu (ou <span style="font-weight: bold;">preto</span>, em linguagem impoliticamente correcta), apodado de pescador pela Licínia, outros chamar-lhe-iam ladrão inocente, cara-de-anjo, etc.<br /></div><br /><br /><div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ_6KxKjIgmKo6tXOYZnnawoxow3gv_Csi_hJIFu47soUqrZUrJZYV0O-ullu0KKX3jAHZbhk-QDgbIt9zNPox48hVUkMlST7iF9W4TbkIhZcaAV9pW5P18qBJr-l-s9MYLWv3JxAnNo0/s1600-h/20081108_3672.JPG"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ_6KxKjIgmKo6tXOYZnnawoxow3gv_Csi_hJIFu47soUqrZUrJZYV0O-ullu0KKX3jAHZbhk-QDgbIt9zNPox48hVUkMlST7iF9W4TbkIhZcaAV9pW5P18qBJr-l-s9MYLWv3JxAnNo0/s200/20081108_3672.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5270894390662617346" border="0" /></a><br /></div><br /><div style="text-align: left;">Esta é do Fofinho. Acho que está tudo dito. Chamo a atenção para a narigueta arruivada, particularidade ímpar.<br /></div><br /><div style="text-align: right;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdpWm6ltf2pTJO-h_i5dqm7FM47NptAKnH2-6jm2orT2QWtr3ioezefJuHFkn2dO1uX-2XgHlnT5ZEQ_g2B_UrwZHwVDCWuFYyKbdC-izXjrZAP2frWhuscZ-xCwimzzDUrKoArTrdyhI/s1600-h/20081108_3676.JPG"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdpWm6ltf2pTJO-h_i5dqm7FM47NptAKnH2-6jm2orT2QWtr3ioezefJuHFkn2dO1uX-2XgHlnT5ZEQ_g2B_UrwZHwVDCWuFYyKbdC-izXjrZAP2frWhuscZ-xCwimzzDUrKoArTrdyhI/s200/20081108_3676.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5270894397224531026" border="0" /></a><br /></div><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />Estes são os meus seguidores...<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtrPqY0KLbuotEOsMokOeFW-MxeB2PdM0UCz_aUH8lCqinn-OVjjfCnIOtEU9EebhkaXnCop4oRf8OM6ukaCCpo9BecqlRCw-L_Zm2bI9zAsvy9x0ijDmswfkrapKhIMzaRqlHARCwlWs/s1600-h/20081119_3735.JPG"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtrPqY0KLbuotEOsMokOeFW-MxeB2PdM0UCz_aUH8lCqinn-OVjjfCnIOtEU9EebhkaXnCop4oRf8OM6ukaCCpo9BecqlRCw-L_Zm2bI9zAsvy9x0ijDmswfkrapKhIMzaRqlHARCwlWs/s200/20081119_3735.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5270894390248351922" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />... seguem-me para onde quer que eu vá. E o dia despediu-se:<br /><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzMVNUGYDPw0DcyF7cRT97H4Cg5zm_XIO_4gvtwK3u_0hY4fIUvL9zwMKNhIlOTLvhIlwaFR903mzJxrgI8wj9GDiwLrHOAW2gplFvX3ABTj-HPC7CSDUF0w1Gb8WuATvp_nWuEw6gTJU/s1600-h/20081119_3740.JPG"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzMVNUGYDPw0DcyF7cRT97H4Cg5zm_XIO_4gvtwK3u_0hY4fIUvL9zwMKNhIlOTLvhIlwaFR903mzJxrgI8wj9GDiwLrHOAW2gplFvX3ABTj-HPC7CSDUF0w1Gb8WuATvp_nWuEw6gTJU/s200/20081119_3740.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5270894399294617314" border="0" /></a>Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues)http://www.blogger.com/profile/13190163107277790391noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-764041943813463296.post-28339577909142522842008-10-27T17:51:00.000-07:002008-10-27T18:19:33.154-07:00A astúcia do BlackO Black é um gatarrão negro, possante e encorpado. Ao contrário dos restantes confrades da sua espécie é um gato basicamente confiante na espécie humana. Vem quando se chama e aproxima-se deixando fazer festinhas. Num gato selvagem isto dava para dois ou três meses de trabalheira até o conseguir. Com ele, não. Foi à primeira vez.<br /><br />Vem calmamente à hora das refeições, senta-se por perto mas não toca na comida. Fica a ver os outros a comerem e só no fim se aproxima, cheira e faz ares de repúdio deixando a entender que comida de lata é coisa um bocado amaricada, comida de cães.<br /><br />Há dias fui encontrá-lo a comer uma coisa amarela. Era lusco-fusco e não dava para ver bem o que era. Mas era bem amarelo, amarelo-alaranjado e de certo modo volumoso. Se era víscera de animal este seria grande, de certeza. Seria uma cobra esfolada? Aproximei-me do Black para observar a sua presa. O Black arredou-se um pouco para ma deixar apreciar. Não fiz questão de ver bem o que era, pois metia-me algum nojo. Mas não deixei de considerar: "que grande caçador!"<br /><br />Andava eu a podar as roseiras com a pouca luz do dia que restava e a pálida luz eléctrica que já se acendera e, a certa altura, vi o Black a aproximar-se de mim. Deu-me marradinhas nas pernas, roçou-se sofregamente e ronronou felicíssimo. Disse cá para mim: "ainda por cima é simpático!"<br /><br />Bem, estava na hora. Arrumei as alfaias no "escritório" e entrei dentro de casa directamente para a cozinha para preparar o jantar. Pus o grelhador ao lume e fui buscar o salmão que estava no tempero soberbo das ervinhas que colhera no jardim.<br /><br />Descobri nesse dia uma excelente maneira de preparar atum em conserva de lata.Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues)http://www.blogger.com/profile/13190163107277790391noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-764041943813463296.post-22689864255842703222008-10-03T09:42:00.000-07:002008-10-03T11:01:47.965-07:00Como despachei o ZingaSou um mau falante de Tamasheq: o raro que conheço é só para me dar ares.<br /><br />Não abdico, por isso, do meu tradutor de francês para conversar com os membros do povo do véu e junto sempre, como condimento à conversa, à noite à lareira, uns tragos de chá,e apenas uns tragos que demasiado seria recebido como rudeza e má criação. Para além de que, como sanciona a vasta sabedoria tuaregue, a água pode tornar um homem em escravo.<br /><br />Foi difícil vender o Zinga à dona do palmeiral. Para que servia o burro? Se fosse uma cabra ou uma camela leiteira, ainda vai como vai. Agora, um burro?<br /><br />Há uma expressão nigeriana que é o "ser tão teimoso como um tuaregue". Apreendi uma vez a conotação ligeiramente jocosa e brejeira do termo equivalente ao nosso "teimoso", que faz rir as mulheres em conlúio, e decidi usar essa descoberta, logo que pudesse, em proveito pessoal.<br /><br />Estava ela a querer saber que nome eu pusera ao burro e o que queria dizer Zinga. Disse-lhe que era uma deturpação do termo "rezingão", equivalente bem humorado de "teimoso". Desataram-se todas a rir, o ambiente espaireceu e o Zinga mudou de dono sem me piscar um olho ou abanar a cauda em jeito de adeus.<br /><br />Não lhes contei a razão verdadeira : pus-lhe o nome ao calhas quando estava a ler um artigo sobre o eventual envolvimento de Ratzinger na juventude hitleriana.Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues)http://www.blogger.com/profile/13190163107277790391noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-764041943813463296.post-23825302203618269752008-09-12T18:16:00.000-07:002008-10-03T02:18:25.909-07:00O Zinga e eu<p class="MsoNormal" style=""><span style="" lang="PT">Ao contrário dos gatos, que não falam mas conversam, os burros não conversam nem falam: limitam-se a olhar e é na profundidade do seu olhar que um homem vê se as suas ideias são aprovadas ou desaprovadas. É vão todo o demais esforço para comunicar ideias: um burro tem uma compreensão aberta mas é incapaz de entender uma explicação para as coisas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style=""><span style="" lang="PT"><o:p></o:p>Assim é o Zinga. No dia da minha grande zanga, depois de ter mamado do alguidar de latão todo o leite de camela, que constituía parte proeminente das nossas provisões para a semana, esticou o pescoço até mo assentar no ombro e dava pancadinhas com as orelhas de abano na minha face. A vontade de airar evaporou-se num ápice na torridez do deserto. Sumiu, deixando o gesto secar-se no corpo como a lama das construções dos beduínos. O Zinga focou em mim os olhos globosos, chorosos de tanta ternura. E que havia eu de fazer? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style=""><span style="" lang="PT">Um burro põe-nos sempre perante problemas práticos. A questão doravante era como fazer e não que fazer. Arranjar mais leite, numa época em que nem os espinhos das acácias se tinham ainda recomposto para servir de alimento às manadas? Estava fora de questão adquirir mais leite aos tuaregues. Da minha parte, iria intervalar o chá de menta com o café à turca temperado com a vagem do cardamomo. Ele que se desunhasse; a ração tinha-a já no buxo, que fizesse como os camelos: não a desperdiçasse. Dito e feito, parecia ler os pensamentos: as quatro patas abertas e bem fixadas no chão, do falo entumecido jorrou em jacto uma urina espessa, quente e espumosa que se dissipou de imediato no chão alaranjado.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style=""><span style="" lang="PT">Para lhe mostrar quem mandava desenrolei a extensa faixa da <i style="">tagelmoust</i>. Esperava que o meu rosto expressasse toda a raiva acumulado em sucessivos episódios de cabeça perdida. Pelo contrário, riu-se descaradamente das minhas feições purpúreas provocadas pela tinta que se depositara na cara ao longo do dia. Cedi, rindo também. Não ia desperdiçar a minha reserva de <i style="">harissa</i> para me mascarar de vermelho. Afinal de contas, é preferivel comer uma <i style="">chorba</i> bem apaladada do que mostrar a cólera a um burro.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style=""><span style="" lang="PT">Voltei a enrolar a <i style="">tagelmoust</i> que me deixou de fora apenas os olhos. <span style=""> </span>Daí a pouco iam levantar-se os <em>ghibli</em><em><span style="font-style: normal;"> que</span></em>, como um turíbulo oscilante, espalhariam por todo o lado a poeira do deserto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style=""><span style="" lang="PT">Afinal sempre ficavam os olhos que se iriam gladiar como um jogo de espelhos.</span></p><span style="font-style: italic;">(Texto enviado hoje para publicação por </span>Perdido<span style="font-style: italic;">)<br /><br /><br /></span>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-764041943813463296.post-12189960810612135892008-04-17T16:44:00.000-07:002008-04-17T16:48:43.942-07:00Livro de visitasPerdido tem um jeito especial para entender e falar com a bicharada. O que demonstrou em dois anos de publicações no blogue "O Tremontelo". Esses postais foram recolhidos neste lugar.<br /><br />Incito o visitante a percorrer os quadros desta exposição ouvindo Mussorgsky. E a deixar as suas impressões neste livro de visitasUnknownnoreply@blogger.com0